Explanando um pouco qual a minha visão do Padel enquanto modalidade e tentando ir de encontro às questões que o Plantier muito pertinentemente colocou:
O Padel tem, para mim, 3 vias completamente distintas, que por sua vez se podem ainda “dividir”:
1) - A profissionalização e alimentação de valores para a Seleção Nacional (Mas & Fem)
2) - A prática enquanto desporto
3) - A prática enquanto actividade de lazer/recreativa
Começando pelo 1)
Ao contrário do que se pensa, a fomentação/alimentação de uma Seleção Nacional, não se faz pela Federação. Os clubes são sempre, em qualquer modalidade os “fornecedores” de jogadores de top às convocatórias. A federação pode e deve criar condições logísticas para esses jogadores criarem de facto uma seleção, um grupo… treinarem… terem a sua “casa”…o seu centro de estágio.
Já se falou de um centro de competição no Jamor, mas pessoalmente nunca vi o projeto nem sei de datas para que isso aconteça.
Mas diga-se, de nada adianta ter umas instalações muito “bonitas” (e mesmo sendo bonitas, têm de ser bem geridas) se não forem alimentadas com jogadores e aí é que o papel da federação é importante e que “cola” com os pontos seguintes.
Os clubes não têm, à data, uma “equipa” própria. (e para que lhes serviria terem? Se eu tivesse um clube também não me preocuparia com isso pois isso não alimenta o meu negocio)
Têm um conjunto de jogadores habituais, escolhidos pelos seus professores (que são por norma os habituais selecionados por serem jogadores de top). O seu modelo de negocio (e isto não é uma critica) está vocacionado para alugar campos, proporcionar (em alguns casos) um “Value for Money” compensatório e fidelizar campos.
Ora para alimentar uma seleção é preciso “formar” atletas e formar atletas não é saber “sacar por 3” em todas as bolas. É criar escolas de padel para as crianças e apostar num modelo de formação a 5-10 anos.
E isto simplesmente não existe e desconheço se a FPP tem algum plano, ou sequer conversações com os clubes para fomentar isto de alguma forma.
Fazendo analogias…se pensarem em outras actividades ou desportos isto existe sempre. Seja do coro de santo amaro de oeiras, à natação do alges e dafundo, a academia de futebol do sporting (falo desta por ser a que tem esse modelo há mais anos…nada de clubismos ok?), seja o Chapitô, seja Engenharia no Técnico….
Em suma, as entidades privadas (sejam clubes, sejam ligas organizadas por empresas como a padelbox) que investiram do seu próprio bolso em infraestruturas e hoje em dia mobilizam a massa critica de jogadores de Padel têm de ter um plano e uma entidade organizadora que fomente o Padel e essa responsabilidade recai obviamente na FPP.
O seu papel de regulador deve ser gerador de consensos e não de imposições de taxas, regras sem sentido e burocracias que em nada ajudam este objectivo.
Recentemente houve eleições para representantes de clubes e jogadores… taxa de participação foi residual… a comunidade do Padel está alheada da FPP (ou será o contrário?) e isso refelte-se.
Pessoalmente estes temas interessam-me e questionei se era possível a uma pessoa (vá a um federado) assistir a uma assembleia da FPP. Não é possível!
O modelo impõe que os delegados dos jogadores sejam a sua voz… mas isto faz algum sentido? Os delegados falam com os jogadores como? Pelo boca a boca do seu dia a dia particular?
O Padel não (já deixou de ser) um tema de apenas alguns. É um tema de todos. De muitos.
Mas já me estou a desviar da temática e deixemos este post sobre qual deverá ser a actuação da FPP para outro post.
Como alguém já escreveu:
O padel em Portugal só vai verdadeiramente evoluir, quando os clubes deixarem de ter clientes e passarem a ter atletas. Isso é um verdadeiro clube. O resto são empresas de aluguer de campos.
…continuando no ponto 2)
Neste ponto refiro-me a muitos praticantes que fazem do Padel a sua actividade física principal (já nem falando da terapia psicológica que ele proporciona) e que querem de facto evoluir tecnicamente, competir em torneios, etc.
São aqueles jogadores que vemos assiduamente nos clubes, que escrevem neste fórum, que vão aos torneios de aniversário dos clubes e que imagine-se, até se federam para poderem ir a torneios FPP para aparecerem numa tabela pdf com um ranking!!
Em suma, falo dos jogadores que não começaram isto desde pequeninos. Foi a malta que na ultima mão cheia de anos descobriu isto e que andou por ai a fazer manguitos à troika a gastar dinheiro que não devia.
Falemos então desses jogadores. Os clientes dos clubes. Os tais que, no estado actual das coisas, motivaram algumas das perguntas que o Plantier colocou.
Sem fazer inconfidências, enquanto escrevo recordo-me agora da conversa de um grupo de amigos em que um deles ao rever fatura IRSe pagamentos de 2017 exclama… gastei pelo menos 2000€ em Padel o ano passado! Isto não contabilizando o pago em cash. Ora descontando o habitual mês de férias….ele gastou por mês, minimo uns 180€.
Um abuso? Mas como? Fácil…é fazer as contas:
Tipicamente as aulas 1x por semana, com 4 alunos, custam 60€ certo? (alguns clubes menos… mas também pode ser mais caro se forem menos alunos por turma), portanto…660€. Jogar 2x/semana, em Lisboa num indoor nos clubes de top? A 10€ por jogo que é o preço habitual = 80€/mês = 880€.
Fazer um torneio (tipicamente 20€ de inscrição) por mês?=220€
A jogar assim tanto… 1 raquete por ano e 1 par de ténis (há quem gaste menos…há quem gaste mais) … (aqui os preço variam muito por isso… vamos por valores médios de 150€ mais 70€) =220€
Contas de merceeiro, somatório de 1980€
Pois é… um praticante de judo, natação, futebol, whatever…quanto pagará por ano? Um ginásio premium oferece acesso a n actividadesde não sei quantas aulas por metade, um terço deste valor. Um ginásio low cost por bem menos que isso e com free pass!!
Então como é que um jogador passa de ser praticante ocasional para ser assíduo? Verdadeiramente assíduo?
É isto que os clubes devem pensar.
Obviamente que até ao momento e falando em exclusivo da grande Lisboa, as horas de pico continuam “cheias” e por isso não há essa necessidade.. os clubes têm a sua fonte de rendimento estável e assim se vão mantendo.
Ora, este discurso todo parece que não está relacionado com a temática deste ponto mas a questão é que está! E passo a explicar:
O jogador que pratica o Padel enquanto desporto (e que não quer ser atleta) procura muita coisa e é exigente. Primeiro que tudo, não procura apenas “um campo para alugar”. Isso responde ao tema dos Go fit´s e afins… Um jogador gosta de ir a um clube.
O Go fit é um ginásio que aluga campos, ainda por cima com piso assim a assim, que dá seca aos jogadores para dar a chave, sistema de luzes de moedinhas e que fecha os jogadores atras da grade depois da hora de fecho…. Para quem quer só jogar a um preço acessível serve. Optimo sitio para ir com os miúdos treinar por exemplo… mas não oferece aquela sensação de ir jogar Padel.
Um clube dinâmico, com bom staff, com bons campos oferece mais que isso e claro isso paga-se mais. O tema aqui é quanto mais?
Por agora as horas de pico cheias ditam que não vale a pena os grandes clubes se diferenciarem muito. Mas os clubes pequenos, com menos campos, com pior estacionamento, até alguns outdoors, etc. devem repensar estratégia… pelo preço? Sim em horas de expediente, de almoço, manhãs, fins de semana…mas mudando a dinâmica com diferenciação de serviços alem do Padel. E uma forma de os pais/mães terem lá um espaço com animador para se poder deixar os filhos enquanto se joga? – Só para citar um exemplo….
Terão os clubes já pensado em levar os jogadores as suas instalações para ver o campeonato do mundo nas suas TV´s?.... e ali pelo meio fazer um joguinho?... só para citar outro exemplo.
Em resumo: o praticante assíduo do Padel quer clube de Padel e não um campo para alugar? Sim. E paga mais por isso? Sim. Mas quer algo que seja sustentável.
3) e o jogador social
O jogador social pode ter duas vertentes…aquele que vai experimentar o padel e eventualmente se tornará praticante assíduo e aquele que vai pela piada de vez em quando porque os colegas da empresa o desafiaram.
Já foi aqui falado pelo fórum, que a taxa de retenção do Padel (ou seja pessoas que apos experimentarem o passam a querer fazer regularmente) é elevada. Mais elevadas que muitos desportos.
Ora, so vejo dois motivos para que uma pessoa não passe a fazer disto pratica regular:
- Não tem jeito nenhum e não gosta de desportos de raquetes – sobre estes nada a fazer!
- Até gostou, mas rapidamente faz contas e 10€ por jogo é mais caro que um menú de almoço no trabalho… e prefere pagar 7€/semana no fitnuss hut. Lá estou eu a falar do preço, mas falo porque consigo lembrar de uma mão cheia de pessoas da minha sala de trabalho onde isso aconteceu. 5 clientes “perdidos”.
Aqui a solução da expansão da modalidade será a massificação. Campos municipais, clinicas privadas dos clubes para iniciantes ao preço da chuva (para os transformar em jogadores assíduos e que depois valorizem o que referi no ponto anterior). Isto requer acima de tudo uma gestão de uma grande base de dados…! Um enorme conhecimento da clientela. Não pode ser apenas o funcionário da recepçao e sim um staff por trás a analisar o “tráfego” do clube…
Respondendo directamente às questões colocadas:
Na vossa opinião o driver da decisão de escolher um clube de padel é o preço ou valorizam também a qualidade da infra-estrutura, dos serviços prestados (p.e. Organização de jogos ou de eventos, treinos, etc)?
Já respondi. Não é so preço. Há condições mínimas. Campos, climatização, bolas…até qual a cerveja que servem, serve de diferenciador. O preço é um dos fatores, que se torna mais importante quanto mais vezes se for jogar.
Será possível a convivência entre clubes indoor e outdoor? Será que têm o mesmo Modelo de negócio e que deverão seguir a mesma estratégia?
Depende do outdoor…depende do indoor… Um indoor tem sempre o tema da altura do pe direito do espaço…e da climatização.
O outdoor tem o tema…do local em si…. (e aqui incluo os cobertos). Tens os clubes onde o vento, barulho do transito, a bicharada, as folhas não varridas, as sombras das arvores são temáticas dissuadoras e outros que não têm esses “problemas”. Como também alguém aqui já escreveu…quanto mais “purista” (direi picuinhas) for o jogador mais atenção dará a cada vez mais desses fatores.
Qual a importância e sustentabilidade dos grupos organizados de jogadores e qual o seu impacto no desenvolvimento da modalidade?
Bastante importante.
Digo simplesmente desta forma: Os grupos organizados de jogadores fazem aquilo que os clubes (e federação) não fazem por eles. Organizam-se. Tomam iniciativa.
Um evento do fórum, um mix do carvalho, um padel total, etc. etc. etc. etc. é sempre aliciante não é? Porque será?
Que tem o padel a aprender com outras modalidades de raquete? Será a massificacao o único caminho? Que erros deve evitar?
Com os pontos anteriores tentei demonstrar que não. A massificação poderá/deverá acontecer, mas porque o mercado assim obrigará.
Haverá um ponto de saturação de pessoas que sustentem o modelo de negocio “as is” e daí se partirá para os extremos. Clubes muito premium (não se falou desse nicho ainda) e para as “massas”.
O erro a evitar é ficar de braços cruzados e desperdiçar os newcomer´s. Volto a referir… apenas o funcionário do balcão, não basta….
Será o mercado espanhol (será apenas um ou vários?) a referência a ter em conta para a indústria do padel em Portugal, seja do ponto de vista dos clubes (e da sua sustentabilidade), seja do
Ponto de vista competitivo?
O mercado espanhol terá muitas semelhanças com o nosso por sermos culturalmente parecidos? Não sei… não conheço o mercado espanhol. E mesmo sabendo que eles têm 20 anos de avanço.
Mas em Espanha há clubes com excelentes instalações (vemos fotos e descrições de foristas que os visitam) e cuja politica de preços é bastante diferente.
Mas em Espanha o padel está no topo dos desportos mais praticados.
E coincidência das coincidências….Quanto ao ponto de vista competitivo… qual é a maior referencia competitiva mundial? Não é Espanha?....