Faço um balanço muito positivo deste Mundial, penso que funcionou como uma excelente montra para a modalidade, apesar dos diversos problemas ocorridos, muitos deles naturais de quem nunca recebeu uma organização desta envergadura no nosso país.
Começando pelo que interessa, os jogos. Pudemos assistir a fantásticos jogos neste mundial, nem sempre bem jogados tecnicamente, mas com uma entrega e um querer fabulosos por parte de diversas seleções. Tive oportunidade de passar algum tempo nos campos 3 a 6 onde se disputavam os jogos de aparente menor relevância. Mas foi exatamente aí onde se viu o maior espírito de grupo, com jogadores, técnicos e família a criarem claques fantásticas de apoio aos seus atletas. Foi particularmente interessante ver um ex-tenista como Olivier Rochus, campeão de Roland Garros em pares e ex-Top 30 ATP em singulares, a ser mais um jogador ali presente, simpático a falar com toda a gente e a puxar fervorosamente pelos seus colegas.
Como dizia, tecnicamente, não foi nesses campos que se aprendeu muito, mas foi aí que mais ficou evidente que o padel não é só técnica, é muita entrega, muito pulmão e essencialmente muita tática e cabeça. Isso pareceu-me ficar muito evidente no embate dos 3.º e 4.º lugares femininos entre Brasil e Suécia, com estas últimas a darem réplica às favoritas brasileiras e olhando isoladamente para as suecas ninguém diria que estariam ali a discutir a medalha de bronze.
Sobre os craques, não há muito mais a dizer, Argentina e Espanha (e Brasil!) claramente um passo de gigante à frente das restantes seleções masculinas e a Espanha a anos luz nos femininos. Fiquei surpreendido com a falta de segundas linhas argentinas em femininos, pensava que poderiam ter apresentado uma seleção mais forte e vi algumas duplas com nível bastante inferior ao esperado. Mas depois ao analisar as nacionalidades das principais jogadoras WPT, reparei que efetivamente as melhores são quase todas elas espanholas, não acontecendo o que sucede nos masculinos, onde a Espanha apresentou 3 naturalizados.
Vale a pena destacar a prestação brasileira em masculinos, duplas fortíssimas como Julianotti/Campagnolo e Lucas Cunha/Naqid, este último uma grande surpresa para mim, dado que nunca tinha ouvido falar dele. Já para não falar no Chico Gomes... Noutras seleções também gostei muito da dupla chilena que defrontou o Diogo e Miguel nos quartos de final da competição por pares e de uma outra dupla uruguaia, que me deu ideia terem feito um outro WPT este ano, mas já não me recordo dos nomes.
Sobre Portugal, ficou a sensação de que um 3.º lugar em femininos estava perfeitamente ao alcance, essencialmente se tivessemos tido a Nogui e a Leninha em competição. Com as presentes, vimos no 1.º embate com o Brasil um encontro perfeitamente ao alcance da Kátia e Sofia, mas que fugiu por entre os dedos. Os 2 embates seguintes não pude assistir, por isso não sei as diferenças. Mas penso que temos claras condições para nos afirmarmos como a 3.ª potência mundial. Já nos masculinos sonhar com um 4.º lugar não é descabido e com a tendência de crescimento recente, quem sabe no próximo mundial possamos atingir umas meias finais.
Na competição por duplas, destaca-se a final do Diogo e Miguel, mas vale o que vale. Obviamente que não deixa de ser um marco no padel nacional, mas seria interessante que esta prova tivesse suscitado um interesse nos homens que pudemos observar nas mulheres, em que as número 1 também participaram e ganharam. Da Argentina não tivemos nenhuma dupla presente, da Espanha apenas a mais fraca e do Brasil, as duas duplas mais fortes não jogaram. Ainda comecei essa conversa com o Maxi Grabiel, mas infelizmente não a terminei, apenas pude perceber que não concorda com o modelo competitivo, mas fiquei sem perceber porquê :/
Em termos competitivos, as notas negativas foram claramente para as ausências, desde logo da Nogui e Leninha de Portugal, assim como do Pablo Lima e Marcello Jardim no Brasil, Nicoletti na Itália, etc. As guerras com as federações não são um exclusivo nacional, o que é uma pena. Conseguem imaginar adicionar o Lima e o Jardim à seleção brasileira?!?! Que luxo!!!
Sobre a organização, já muito foi dito, não pretendo acrescentar muito mais, apenas referir que estranhei o facto de os clubes não terem tido um papel mais ativo na promoção do evento, segundo percebi por culpa própria da organização ou da FPP. Alguns clubes também se queixaram que não receberam bilhetes até uns dias antes do evento (desconheço se depois os chegaram a receber ou não) e parece-me que, como diz o pepeferraz, fazia todo o sentido ter dado um desconto para filiados.
Em termos de promoção do evento, muito positivo ver mupis espalhados pela cidade referindo o Mundial, mas para o sucesso do evento era fulcral que essa promoção chegasse essencialmente aos jogadores de padel e recorrer aos clubes para isso parecia-me ser o veículo mais natural. Os mupis servem para dar visibilidade ao evento e à modalidade, o que não deixa de ser importantíssimo, mas deveria ter sido complementado com uma comunicação focada nos jogadores, esses sim com potencial para encher bancadas.
Confesso que gostaria de analisar a sustentabilidade financeira do evento, essencialmente as receitas de bilheteira, embora não augure nada de bom neste campo. Todos os dias era ver filas na tenda das acreditações, VIPs e afins e na bilheteira em si praticamente ninguém. E contra mim falo, dado que consegui obter uma acreditação a partir do 3.º dia, embora no primeiro dia que lá fui tenha pago um bilhete normal. Apesar da boa moldura humana no sábado, a final com o Miguel e Diogo apresentava imensos lugares vazios, indiciando terem sido bilhetes oferecidos e que ficaram por ocupar.
Última palavra para a organização do evento (em particular à Sra. Paula, penso que da empresa Lagos Entertainment), a quem solicitei pelas vias normais uma acreditação para o evento. Com isso impediu-me de trabalhar devidamente uma semana inteira, para além de gastar uma pipa de massa em gasóleo e portagens
Mas valeu bem a pena!